terça-feira, 14 de maio de 2019

Backstreet Boys em Lisboa – A boysband que continua a encher pavilhões de euforia, 26 anos depois

Artigo originalmente escrito para o site Echo Boomer.
Fotos oficiais do concerto: Altice Arena

Backstreet Boys

Pois era mesmo assim que se encontrava o Altice Arena, no passado sábado, dia 11 de maio: a abarrotar! Não só dos fãs mais “antigos” – os que viveram a sua infância e adolescência nos anos 90, os que cresceram com os temas desta banda pop como pano de fundo para as suas vivências de juventude – como também por pessoas que são hoje adolescentes – provando que o trabalho artístico de música pop dos Backstreet Boys conquista e atravessa várias gerações (pelo menos quase três décadas). 

Facto é que a boysband que nasceu em 1993 – mas cujo auge de popularidade se registou entre 1996 e 2002 – amadureceu. É agora feita de homens, mas que ainda se apresentam com toda a energia e groove de uma boysband para adolescentes. Uma energia incrível, contagiante e imparável do início ao fim. E é assim que, 26 anos depois, continuam não só a produzir música pop de excelência (o seu mais recente álbum, DNA, lançado o ano passado, foi uma boa surpresa), como a juntar multidões que deliram com as suas letras, beats e coreografias, diga-se de passagem, extremamente bem sincronizadas. 

Portugal foi o país escolhido para a estreia desta tour mundial, e que honra a nossa poder abrir uma série de concertos que, temos a certeza, conquistarão muitos corações pelo mundo fora, como conquistou os nossos nesta noite.


O espectáculo abre com nuances (samples musicais) de um dos temas mais badalados da banda, “Everyone”. Nuances que, talvez, só os fãs com ouvido mais apurado conseguiram reconhecer, enquanto em dois ecrãs gigantes apareciam imagens da banda. “Everyone” foi, na verdade, um tema lançado em 2000 e dedicado inteiramente aos fãs da banda, agradecendo aos mesmos o facto de os manterem sempre no topo – de acordo com o Guinness Book, os BSB são a Maior Boy band de Todos os Tempos com mais de 135 milhões de álbuns vendidos. Assim, nenhum outro tema poderia ter sido mais apropriado para a preparação da entrada da banda. 

 A plateia estava ao rubro desde este primeiro momento de suspense, e o êxtase foi total aquando da “aparição” de Nick Carter, Kevin Richardson, Brian Littrell, Howie Dorough e AJ McLean que cantam, em uníssono, num coro perfeito que ecoou pelo pavilhão, o início de “Be With You”, tema escolhido para abertura, do álbum homónimo à banda, lançado em 1997. 

Da parte de trás do palco, vêm para a frente e os temas “The Call” e “Don’t Want You Back” (tema icónico) fazem-nos viajar de volta ao final dos anos 90 e início dos anos 2000. As coreografias, extremamente bem coordenadas entre os cinco elementos, pejadas de sexappeal, e os mingles das suas vozes, com solos intercalados com coros, só provam que não perderam o jeito para a coisa – talvez até, pelo contrário, o aperfeiçoaram com o passar dos anos. 

Após esta viagem no tempo a alguns dos seus hits mais famosos, é a vez de Nick brilhar com uma pequena intervenção a solo, desta feita com a primeira apresentação de um tema do novo álbum, DNA: “Nobody Else”. Um solo que faz arrepiar, mas que se fica pelo início, como que um sneak peak do que “aí vem”, passando diretamente para um dos temas mais catchy também deste mais recente disco, “New Love” – com uma base line muito funky, linhas de flauta em tom alegre e muito sui generis, num tema que é uma reciclagem compelta do que os Backstreet Boys sempre fizeram de melhor. Depois deste momento, voltamos momentaneamente aos anos 90 (mais precisamente a 1997), com o tema “Get Down,” para, logo depois, um dos temas de DNA, “Chateau”, a solo por Howie – que desaparece, por fim, para o interior do palco. Um autêntico loop de viagens no tempo, com dinamismo e vivacidade imparáveis, incansáveis, que mostraram ter o tempo todo!

Por esta altura, já as emoções eram bem fortes. Entre os hits mais antigos (numa onda bem marcada de nostalgia e revivalismo) e algumas amostras dos temas mais recentes, já não sabíamos bem o que esperar – tudo era uma surpresa, tudo podia acontecer! Tanto que, para segunda parte, aparece num dos grandes ecrãs “BSB Presents: DNA” para depois interpretarem as antigas “Show Me The Meaning Of Being Lonely”, “Incomplete”, “Undone” (estas duas últimas, por sua vez, já mais recentes, lançadas em 2005 e 2009, respetivamente), “More Than That”, “Shape Of My Heart”, “Drowning”, entre outros temas tão hype. Entre estes – neste, lá está, constante back&forth – “The Way It Was”, “Chances” e “Passionate”, três temas do novo disco. Em “Passionate”, particularmente, a loucura foi total, não fosse este o tema definitivamente mais funky do álbum. 

É de destacar que, ainda que mantenham aquele toque extremamente jovial, as canções de DNA têm um tom bastante mais maduro, comprovando não só o crescimento da banda em si, como também a sua notável capacidade de atualização e adaptação; estes temas são contemporâneos, bem integrados no panorama musical dos dias de hoje, mas sem nunca deixar de ter aquele toque “oldschool” a que os Backstreet Boys sempre nos habituaram. 

E cantámos. Cantámos em uníssono, cantámos de cor, as letras na ponta da língua, de uma ponta à outra, e se dependesse de muitos fãs, com certeza muitos não se importariam de fazer duetos com eles! As cinco vozes de Nick, Kevin, Brian, Howie e AJ combinam tão bem, são tão harmoniosas juntas, e a forma como conjugam os solos com os coros, as vozes principais conjugadas com as segundas vozes e backvocals, é soberba. Com certeza muitos dos fãs saíram deste concerto roucos de tanto cantar. O tema no qual isto foi mais notório foi mesmo em “Breathe” (outro dos novos temas), cantado completamente em acapella, tal como o é no álbum. Neste tema, os BSB elevaram-se no palco e elevaram-nos o espírito com tal perfeição vocal.

Para além de serem excelentes cantores e compositores, são também performers exímios: sempre em contacto com o público, sempre a meter-se com quem teve a sorte de estar mais próximo do palco, a interagir e a, literalmente, namoriscar com o público – com acenos, dar as mãos às fãs, piscares de olhos e até mesmo fazer brincadeiras para as câmaras dos muitos smartphones que tinham apontados na sua direção (não fosse esta uma banda dos anos 90 a atuar em pleno século XXI – hoje, já não os recortamos os seus posters das revistas Super Pop e Bravo, mas postamos fotos e vídeos no Instagram com a hashtag #BackStreetBoys). 

Baladas como “As Long As You Love Me”, “Don’t Wanna Lose You Now”, “I’ll Never Break Your Heart” e “All I Have To Give” são apaixonantes e arrebatadoras, capazes de derreter qualquer coração mais mole, e com bastantes influências jazz e blue/R&B que fazem, por vezes, lembrar outra icónica banda de música pop, Boys II Men. 

“Everybody” foi, claramente, o ponto mais alto da noite, não fosse este também um dos hits mais populares e virais de sempre da banda. Afinal, quando se pensa em Backstreet Boys, e mesmo para quem não é fã, quem não se lembra imediatamente da famosa line “Backstreets Back, Alright!”? As não menos extravagantes (no bom sentido) “We’ve Got It Going On”, “It’s Gotta Be You”, “That’s The Way I Like It”, “The One” e a famosíssima “I Want It That Way” (com direito, também, a karaoke por parte do público), seriam os temas que viriam a fechar este extraordinário concerto.



Isto, claro, até aoencore – que combinou com a tónica de todo o espetáculo, com a apresentação de um tema novo, par a par com um dos mais antigos. Do novo álbum, “Don’t Go Breaking My Heart” foi a escolhida, sucedendo-se a “Larger Than Life” (1999). Dois temas que, ainda que separados por 19 anos, são igualmente explosivos – e que, com direito a um mini fogo de artifício e lançamento de confettis, proporcionaram um final à grande e, à falta de melhor palavra, musicalmente orgásmico!

Foram duas horas de concerto, 31 temas mais dois de encore – pudera, são 26 anos revisitados! A distribuição dos temas pelo tempo do espetáculo, o facto de terem aproveitado as passagens e as mudanças de roupa para passarem samples de alguns dos temas que não interpretaram na totalidade, além das constantes oscilações entre hits mais antigos e os temas do novo álbum, foram jogadas de génio que nos deixaram em completo delírio. Um concerto nostálgico, épico e mágico.


sexta-feira, 12 de abril de 2019

Bebel Gilberto – Voz de Veludo e muito improviso

Crítica elaborada para o site Echo Boomer




Onze anos após a sua última atuação em Portugal, na qual celebrou um aniversário, Bebel Gilberto – grande nome no panorama da música brasileira – voltou, este ano, a pisar dois palcos portugueses: primeiro no Porto (n’A Casa da Música), a 8 de abril, e depois em Lisboa, no dia 9 (no Teatro Tivoli BBVA). O Echo Boomer esteve lá para contar tudo em primeira mão e deixa um gostinho da boa energia de Bebel aos fãs que, por algum motivo, não puderam assistir. 

O espetáculo começou intimista, apenas com uma meia luz sob Guilherme Monteiro, guitarrista e amigo de longa data de Bebel. A entrada da artista fez-se acompanhar com uma sentida salva de palmas; surgiu a dançar de forma fluída, com um top brilhante, que apenas complementava o brilho natural que a artista já transpira pela sua presença. 

“Momento”, tema do álbum homónimo, de 2007, começou sorrateiro, abrindo o concerto. “Lisboa, meu amor”, começou por dizer, dando as boas-vindas ao público. Ao longo de todo o concerto, aliás, Bebel manteve uma comunicação fluída com o público, com pitadas de humor, inclusivamente deitando-se no palco e dizendo que foi algo que aprendeu com a grande Maria Bethania, fazendo-nos sentir como se estivéssemos em palco com ela. 

Extremamente expressiva, genuína e espontânea, transmitiu-nos uma autêntica sensação de warm welcoming, tal como é a música dela em geral. Solta, desprendida, carinhosa, simplesmente ela mesma numa entrega total ao momento. 

Com uma setlist definida mas com muita flexibilidade de desvio, flexibilidade essa partilhada com a plateia, Bebel cantou algumas faixas de improviso, como por exemplo “Lisboa boa noite (…) agora eu vou cantar uma música que tem mais um papaparapapapara; na verdade a Bebel põe papapa em todas as canções e todas as canções dela têm papapa, agora vai cantar comigo, se quiser me acompanhar nessa canção”. Também brincou muito com a gastronomia portuguesa, referenciando o bacalhau com natas numa das suas faixas de improviso, arrancando autênticas gargalhadas do público.

  

Ao longo do concerto, entre improvisos e risos, Bebel revisitou alguns dos seus clássicos de samba e bossa nova, que marcaram os momentos mais altos da sua carreira de 30 anos. É o caso das famosíssimas “Baby” e “Simplesmente”, também do álbum Bebel Gilberto – que colocou toda a plateia a cantar em uníssono e a sorrir com o tom enternecedor destas músicas – e a tropical “Aganju”, escrita pelo também reconhecido artista brasileiro Carlinhos Brown. 

Foi com emoção que Bebel falou do recente falecimento da sua mãe aos 81 anos, a também famosa cantora brasileira Miúcha, aproveitando para cantar alguns dos seus temas, em jeito de homenagem – como “Just One of Those Things” (com João Gilberto) e “Comigo É Assim” (com Tom Jobim). De álbuns mais antigos, temos “August Day Song”, “Mais Feliz”, “Sem Contenção” e “So Nice”, todas do álbum Tanto Tempo, lançado em 2000. 

Contámos ainda com uma cover de “Harvest Moon”, de Neil Young, – e, aqui entre nós, ficou a faltar uma das mais bonitas covers também já feitas pela Bebel: “Samba da Benção” (originalmente de Vinicius de Moraes). Afinal, a letra de “Samba da Benção” (“é melhor ser alegre que ser triste / A alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração / Mas pra fazer um samba com beleza / É preciso um bocado de tristeza / É preciso um bocado de tristeza / Senão não não se faz o samba não”) resume toda a aura musical da artista: uma felicidade serena que toca na tristeza e a necessidade de haver tristeza para haver beleza e composição de música. Mas, pelo charme de todo o concerto, não só pelas músicas em si como por todo o encanto enternecedor que a artista imprime na sua atuação, está perdoada por essa “falta”. 

Para encore, dois dos seus temas mais conhecidos, “Samba e Amor” – tema gravado com o seu tio Chico Buarque – e “Preciso Dizer Que Te Amo” – o seu primeiro tema gravado em estúdio, em 1986.

   

Bebel respira música e nota-se que esta é a arte que preenche a sua alma – não corresse a música no seu sangue, sendo filha de Miúcha e João Gilberto, e sobrinha de Chico Buarque. Bebendo das suas heranças, nunca desiludiu, contando com uma carreira sólida, estando o lançamento do seu próximo álbum previsto para este ano. 

No palco do teatro Tivoli BBVA, era só ela e o seu companheiro Guilherme – como o nome do espetáculo, de resto, indicava, “Voz e Violão”, a base eterna da bossa nova. E, de facto, não era preciso absolutamente mais nada para sairmos de lá com o coração cheio.


quinta-feira, 14 de março de 2019

Mishlawi - Como sentir a música com todas as células do corpo!

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Em pleno início de uma carreira bastante promissora, Tarik Mishlawi, luso-americano de 21 anos, torna-se num nome cada vez mais proeminente no panorama de hip-hop/rap português, mas não só – é já falado a nível de imprensa internacional, tendo sido referenciado como “A Revolução do Hip Hop português” pelo jornal espanhol La Vanguardia, e frequentemente referenciado como Talento Transatlântico. Os comentários nos seus vídeos do Youtube frequentemente referem que Mishlawi é um dos artistas hip hop mais underrated. Será que isso está a mudar agora, para o artista? 

Em plena era tecnológica e em que muito se fala na geração Millennial, foi na internet que Mishlawi começou por divulgar o seu trabalho artístico, proliferando um pouco por diversas redes sociais, acabando por fim por ser descoberto pelo já conhecido Richie Campbell. Em 2019, no passado dia 9 de março, apresentou, pela segunda vez na sua (ainda) curta carreira, um concerto em nome próprio (sendo que o primeiro terá tido lugar no Porto, a 22 de fevereiro). O local escolhido foi o Coliseu de Lisboa e as expectativas, essas, estavam a um nível bem elevado – como se podia ver e sentir, de resto, pela euforia da jovem plateia que preenchia a arena do Coliseu. 

E por falar em sentir, é exactamente sobre isso mesmo que este concerto foi. As emoções eram fortes e estavam ao rubro ao som daquilo que é um mix de hip-hop com R&B, complementado com uns toques de reggea, aos old school 90’s beats, complementado com instrumentais mais jazz, pontualmente. Uma mistura, se me perguntarem a mim, deliciosa e que acaricia a alma – mas com uma certa garra que me é, muito honestamente, difícil transpor em palavras. FMR (F*ck Me Right) e Always On My Mind (um dos primeiros singles do artista) foram dois dos temas escolhidos para abertura daquela que seria uma noite de êxtase.

Sobretudo em FMR, com aquela linha de sintetizador inicial bem provocadora, que evolui naturalmente para um tema hip hop extremamente bem concretizado.

   

Em tom mais jazzy, é tempo de Mishlawi apresentar os elementos que o acompanham em palco. Com uma forma de falar extremamente sedutora, arrastando a voz e as palavras, e com um charme que lhe é característico e que combina tão bem com toda a sua persona. Delicioso de ouvir, esboça-se um sorriso. 

Esta apresentação precede Uber Driver, que começa de forma tímida, em acapella, e cresce, ganhando corpo e transformando-se na (também) ótima música R&B que é. Bad Intentions, outro grande hit que levou Mishlawi para as luzes da ribalta faz o corpo, literalmente, estremecer, de uma forma muito agradável, com a tal “garra” que parece estar sempre presente pela linha de baixos sempre fortes e bem marcados.


Ótimas músicas R&B são também alguns dos novos temas que o artista apresentou neste concerto, entre os quais Afterthought e Too Basic, ambos em colaboração com Trace Nova, e ambas do seu mais recente álbum de estúdio, Solitaire. Temas como Win Some Lose Some (igualmente do album Solitaire) e Rain (com a colaboração de Richie Campbell e Plutonio) fazem as delícias dos amantes de um bom R&B, aqueles que compreendem o conceito de experienciar a música como um todo holístico: não apenas ouvir, não apenas escutar, nem tampouco apenas “ver”, mas sentir a música com todas as células do corpo – com os olhos fechados e de copo na mão, deixando o corpo acompanhar os flows multissilábicos, que oscilam entre graves e agudos, contrabalançados come com aquele urban feeling, resultante da presença constante e bem marcada da linha de baixos. Limbo e Boohoo fazem, de resto, as delícias dos mais românticos, aqueles que decoram os refrões e depois os cantam nos concertos, em uníssono.


Quase a terminar a sua actuação, o artista resgata um dos seus primeiros singles, All Night (single que já conta com mais de 10 milhões de visualizações no Youtube). Aqui, com um toque mais de salsa e com uma linha de saxofone distinta, temos um exemplo da mistura pontual de estilos que o artista imprime em alguns dos seus temas: All night contém uma sample do músico de jazz americano ChickCorea, acabando por misturar, assim, os estilos Latino e Trap. 

Para encore, o tema Ignore – outro tema cheio de tudo o que Mishlawi é: sedutor, desafiante, provocador, proibitivo de certa forma. Tal qual como se estivéssemos a transgredir algo, a música dele entra como um guilty pleasure musical para os apaixonados desta e pela vida. 

Com um “peace out” se despede de um concerto que, para quase estreia, diria que está aprovadíssimo. Teremos aqui um Drake português?!


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Alex Page - Your Disorder |


Qual é a tua desordem? O teu “distúrbio mental”? O que te perturba e inquieta?
(já paraste para pensar nisso?!)

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É essa a questão que, em tom provocativo, quer Alex Page deixar para o ouvinte reflectir...

Falo de Your Disorder, primeiro álbum de estúdio de Alex Page, banda de pop-rock alternativo oriunda de Almada, composta por Alexandre Matias (vocalista), Cláudio Pinto (baixista) e Ricardo Mendes (baterista). Acabado de sair, em janeiro de 2019, Your Disorder caracteriza-se por ser um álbum conceptual que, através de sonoridades e melodias originais, reflecte e retrata através das mais variadas ideias, a desordem interior que todos temos. Todos, sem excepção!

Adequado às tendências atuais do panorama musical, Your Disorder é composto por 9 temas (sendo o primeiro deles um poema declamado em português), cantados em inglês pela fabulosa voz de Alexandre Matias mas com uma alma bem, bem portuguesa!

E é com imenso orgulho que escrevo hoje a review deste que é o primeiro álbum de estúdio de um grande artista mas, sobretudo, de um grande amigo meu! O culminar de um trabalho dedicado de anos e fruto de uma paixão como nunca vi!

Aqui fica a minha opinião sobre cada tema, numa perspetiva extremamente pessoal e sobretudo de quem assistiu aos primórdios de alguns destes temas.

Poema VIII
O álbum começa com a declamação de um poema (escrito por mim quando tinha uns 15 ou 16 anos), e declamado pelo reconhecido ator Vítor de Sousa. Este poema fala sobre como somos tudo e nada, como vivemos tudo e nada, e como este tudo e nada é efémero tanto quanto a vida em si - fruto de uma desordem interior que se fazia sentir já desde aquela tenra idade. É, por isso, um poema que reflecte a mensagem global que Alex Page pretendem passar com este álbum. Todos temos desordem interior, só difere quando nos apercebemos disso e como lidamos com ela ao longo da vida.

Fake Repressed Desires
O álbum começa com um tom extremamente fatalista – não necessariamente no mau sentido. Fez-me lembrar Evanescence e eu fui fã desta banda. Gosto muito do início quase em acapella, a voz do Alexandre apenas acompanhada do som do vento, de um sintetizador e de um violino. Mas adoro ainda mais que, ao fim de um minuto e meio (e quase como que um alívio por estarmos a implorar por isto mesmo), entrem o resto dos instrumentos, a encher a música, tornando-a mais plena. De destacar a influência de Lana Del Rey em toda a aura da canção, desde a melodia em si, ao sentimento de fatalismo, e até mesmo na bridge, com a letra “Vodka on the rocks / All these bikini models / All the vanilla profit / A sweet taste of pies and ice”.

É uma das faixas que mais gosto no álbum 😊

Framed Pictures

In a more uplifting and playful tone, chega Framed Pictures. Com uma linha de sintetizador constante e que acaba por ser a baseline caracterizadora de toda a música, a melodia extremamente catchy do refrão e das bridges faz com que este tema fique, mesmo, no ouvido. No meio de toda a euforia, a guitarra elétrica e os instrumentos de sopro (saxofone, trompete e trombone) vão dando o ar de sua graça, como quem diz, olha, também estou aqui.
Framed Pictures foi o 1º single de lançamento do disco e foi uma excelente escolha, na minha opinião! É de facto um tema cativante, que nos deixa a cantarolar após ouvi-la um par de vezes.

The Complex
Esta música é esperança. É o newcoming. É uma nova Era. É renascer! É como que uma lufada de ar fresco.

Esta música, para mim, é a segunda melhor (já vão saber qual é a primeira melhor) do álbum e atrevo-me a equipará-la, em algumas partes, a um tema que poderia ter sido escrito pela Regina Spektor. O refrão é completamente libertador e a bridge final, essa, um grito de revolta delicioso de se ouvir. E sentir. Extremamente bem conseguido, este tema tem tudo o que se quer de uma música pop alternativa: faz-nos sentir que, simplesmente, faz sentido (redundância propositada).

Looking
Com um início muito 80’s, mas ao mesmo tempo algo futurista, este tema é muito carismático, desde o início ao fim. Adoro o som das palmas no refrão, remetendo-me imediatamente aos Arcade Fire, outra banda que aprecio bastante (ou q.b.). No geral, Looking é mais um tema bastante catchy e bem conseguido.

Morphine
O meu tema absolutamente fa-vo-rito deste álbum! É sedutor, delicado; acaricia-me a alma e fá-la dançar.

A-dorooooo a cadência das notas de piano, o cintilar do xilofone, a voz do Alexandre a arrastar-se numa melodia enrolada e enebriada.

Se costumo quebrar a escala para músicas que gosto muito (!), dentro do álbum Your Disorder, Morphine é definitivamente um 11/10.

Well, Well, Well
Com a participação da voz suave mas garrida de Sofia Lisboa, este é um tema que surge subtil e vai crescendo em camadas – começando com um sintetizador meio corky, sendo complementado com um baixo e um piano bem marcados e constantes, uma bridge a solo, finalmente culminando num crescendo musical com uma agradável melodia em saxofone. A forma como as vozes de Sofia e Alexandre Matias se conjugam entre si oferece uma sensação de harmonia e até mesmo um quentinho no coração.

Fazem ainda parte desta primeira compilação de originais, os temas Black Grace e La Nuage. Confesso que foram os únicos dois temas que pessoalmente não me agradaram particularmente.


Mais uma vez, dou os meus mais sinceros parabéns Alex Page que, com muita dedicação e paixão, tornaram este primeiro disco possível, num país como o nosso em que o reconhecimento pelas diversas áreas artísticas é cada vez mais difícil! Conseguiram e conseguem fazer um trabalho de qualidade e que coloca a música nacional num patamar cada vez mais elevado.

Aconselho muito a comprarem o álbum online (aqui), pois terão acesso aos videoclips conceptuais realizados especificamente para cada tema. Vale muito a pena!




sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Brit Floyd na Altice Arena – Um espetáculo que une gerações

Crítica escrita originalmente para o site Echo Boomer


A cópia é a melhor forma de elogio, já dizia o ditado popular. Mas é mais com o intuito de prestar um tributo, e não tanto o de copiar (pelo menos não com a conotação negativa que pode ser conferida ao termo), que Brit Floyd, banda-tributo, leva os grandes hits dos irrepetíveis Pink Floyd a palcos um pouco por todo o mundo.

Este ano, para celebrar os 45 anos do inesquecível álbum The Dark Side Of The Moon – vendeu mais de 45 milhões de cópias e é considerado como um dos melhores álbuns de rock progressivo alguma vez produzidos – o palco do Altice Arena, em Lisboa, recebeu uma recreação à altura do acontecimento. Um acontecimento que é nada mais, nada menos, que o último concerto desta tour dos Brit Floyd, depois de terem passado por 154 palcos diferentes. Ainda que o nome da tour seja “The Dark Side Of The Moon“, homónimo ao álbum que pretende homenagear, esta experiência de duas horas foi uma autêntica e deliciosa viagem no tempo e uma (re)visita a muitas canções, presentes em diversos álbuns de estúdio dos icónicos Pink Floyd.

“Shine On You Crazy Diamond” é o tema que faz as honras de abertura de um espetáculo que prometia e que, desde logo, começou a cumprir. O ambiente envolto em mística, os acordes das guitarras num enrolar delicioso a ecoar pelo espaço da arena, como que deixando um rasto atrás de si, as melodias nostálgicas e orgânicas – era isto mesmo que a alma estava a pedir; estavam reunidas as condições para aquecer uma noite bem fria.

“É ótimo estar de volta”, anunciou o vocalista e diretor musical, Damian Darlington, seguido de um “Obrigado” com o “r” bem enrolado, despertando o público do estado de quase transe no qual o tema anterior o tinha deixado. Para aligeirar um pouco o ambiente, segue-se “Arnold Lane”, no qual o saxofonista Ryan Saranich merece um destaque pela sua brilhante prestação a solo. Não tarda muito até que o ambiente seja de novo envolto em misticismo e que sejamos engolidos pela envolvência absoluta que caracterizam os temas de Pink Floyd – como “High Hopes” e “Sorrow”.

“Another Brick In The Wall” é, a seguir ao tema de abertura, o segundo momento alto da noite. Afinal, quem nunca cantarolou “We don’t need no education!”? Um clássico, pejado de rebeldia, e que contou com um brilhantíssimo solo de guitarra.

Em “Mother”, outro dos temas mais conhecidos, é possível ver como algumas letras da banda quase se tornaram “slogans”, com todo o público a cantar “Mother, should I run for president? Mother, should I trust the government?” – e com Damian a cantar um “Não” ressonante como resposta a cada pergunta. A propósito deste exemplo de uma letra que se tornou quase simbólica, é de revelar a natureza sociopolítica que caracteriza as composições e as letras de Pink Floyd, presente em temas como “A Great Day For Freedom”, “Southhampton Dock” e “Dogs Of War” – o que mostra que tudo isto é muito mais do que (muito boa) música ou espetáculos com efeitos visuais espectaculares e luzes de lazer. Pink Floyd é História em forma de música.


Fotos: Ritmos&Blues

A sequência “Speak To Me/Breathe” e “Time” foi uma feliz escolha de alinhamento que, entrelaçadas, num continuum psicadélico, compreendem em si toda a magia do álbum The Dark Side Of The Moon – com a devida salvaguarda para a divertida e rock n’ roll “Money”, já previamente tocada.

“The Great Gig In The Sky” surge, num grito (literalmente) de (des)esperança e resignação perante a efemeridade da vida, cuja única letra é falada no início, “I’m not afraid of dying. Anytime I’ll do, I don’t mind. Why should I be afraid of dying? There’s no reason for it, we gotta go sometime”. A vocalista Angela Cervantes esteve irrepreensível na sua prestação. Uma performance transcendente.

Mas não há tréguas, ainda. “Have a Cigar”, “The Final Cut”, “Wish You Were Here” (denunciada desde um primeiro momento com o inconfundível acorde de guitarra) e “Confortably Numb” (num intercalar entre momentos mais contidos e momentos de explosão), foram outros três grandes pontos altos da noite, sendo, igualmente, três dos temas mais acarinhados pelo público.

Todo este repertório foi acentuado com os temas do encore – uma “Brain Damage” que conflui com uma “Eclipse”, num autêntico culminar de sensações fortes; e, por fim, “Run Like Hell”.

A loucura em forma de rock. “Até faz mexer o coração!”, dizia a pessoa que me acompanhava nesta noite.

Ainda que tenha sido um concerto cheio em todos os sentidos, ficaram a faltar dois temas essenciais: “Us & Them” e “Any Colour You Like”.

Eis um espetáculo que une gerações. Fãs de 70 anos, que assistiram aos concertos originais da banda, e jovens de 20 anos, que estão agora a descobrir pela primeira vez as letras inventivas e filosóficas de Roger Waters, partilham o mesmo espaço.

No topo do fenómeno melódico e lírico dos temas de Pink Floyd, a arte exibida por cada vocalista e instrumentalista foi impecável. Através das luzes e visuais cativantes, chegamos quase à utopia musical. Pink Floyd e Brit Floyd são lembretes de como a música pode ser omnipotente na sua habilitade de transportar e conectar. Unir, firmar e imortalizar. No final de contas, é a coisa mais próxima que temos à magia, e este espectáculo relembrou-nos bem disso.

E é isto que, verdadeiramente, define uma banda como sendo intemporal.