Seremos, talvez, livres no pensamento e na alma, mas nunca o seremos na dimensão física e real.
A liberdade é um paradoxo: uma realidade exequível e simultaneamente uma utopia.
É uma ilusão, uma falácia, mas é um direito fundamental e adquirido.
Felizes daqueles que pensam ser livres.
Sermos totalmente livres implicaria podermos fazer (apenas) aquilo que nos dá prazer, vivendo constantemente sob a máxima de evitar todo o tipo de dor e procurar todo o tipo de prazer.
No entanto, não deixa de ser uma realidade utópica: há sempre factores externos que nos impedem de tal.
Um exemplo clássico disso é a "indústria" (que não o deveria ser) da música hoje em dia.
Há pessoas para quem a música é arte.
Há pessoas para quem a música é um produto de consumo.
Uma pessoa que quer fazer música por prazer, e pela arte, e pelo talento que tem, acaba por ter de fazer da sua música um produto de consumo, para poder fazer daquilo a sua vida.
No fundo, tem de sacrificar a sua própria liberdade (criativa, neste caso, em tantos outros casos liberdades de outros géneros e feitios), para poder viver, a vida, essa, que deve ser o mais livre possível. Curioso, que para podermos libertar o nosso espírito, tenhamos de sacrificar o espírito livre.
Essa pessoa é livre, sim. De criar aquilo que lhe apetece, no sentido mais lato da palavra criação.
Mas tem liberdade? Não.
Nunca temos liberdade, apesar de sermos livres para, simplesmente, o querer ser.
C
A música como arte e a música como produto...
O idealismo por detrás desta dualidade é o tão simples afirmar de um gosto ou crença musical que difere de pessoa para pessoa.
E há-os para todos os géneros e feitios. Às etnias e às massas, aos alternativos e aos auto-intitulados ecléticos, e aos que se julgam. Para uns o Tony Carreira e a Ana Malhoa, para outros o Schubert e para os demais porque há um espaço e canto para todos.
Mas... mistura-se o sentimento... aquilo que uma determinada canção diz, o momento que a acompanha, e o mundo inteiro podia dizer-nos o contrário.
E a canção continuava a ser aquela canção. E perdem-se os segundos em que se fecham os olhos e abalroados pelo imaginário sónico que nos assola...