terça-feira, 19 de maio de 2015

À diferença.

Não me lembro bem ao certo como é que a "coisa" começou. 

Mas começo sempre na memória de alguns momentos esporádicos perdidos na infância: a compra do "Welcome to the Pleasuredome" e a subsequente audição numa Sexta-Feira à noite; a cassete gravada com o duplo Best Of dos Creedence a ocupar o lado A e grande parte do lado B (e o Billy Idol para fechar! Sim, lembro-me bem dessa cassete que depois perdi numa visita de estudo a Alcobaça uns anos mais tarde). 

E, talvez com uns 8/9 anos, disseste-me algo assim: "Olha, vou ali ao café. Porque é que não gravas algo bom que passe na rádio?"

Hã? Gravar algo bom? Mas eu só conheço as minhas cassetes (que já foram tuas e andavam lá perdidas em casa da avó, que eu tocava naquele gravador portátil manhoso) que têm artistas que eu não sei pronunciar o nome, quanto mais! Algo bom... conheço as tuas! E lá fiquei parado, sentado no sofá a olhar para os vuímetros digitais do gravador. 

E as cassetes que foram sendo gravadas e me iam sendo entregues... Havia de tudo... (quase) tudo o que não era comercial! E quando era, era porque era bom! A ideia sempre foi esta: "ouve isto que vais gostar". A verdade é que nunca me interessaram as modas musicais ou os artistas da moda. A verdade é que tinha um espólio muito mais valioso para conhecer...

... Como, por exemplo, aquele dia em que fui contigo à Rua Direita e compraste algo intitulado "Led Zeppelin III". E eu, sentado ao teu lado no sofá, sem perceber muito bem a satisfação que tu transmitias a ouvir a "Since I've Been Loving You". Depois percebi. O costume, na maioria dos casos!
 
E no verão de 97 o acesso ao Philips (o teu gravador de bobines!). Um ano mais tarde, numa noite de Verão, fui contigo ao Amoreiras buscar o Pioneer (o teu gira-discos!). A proliferação de coisas novas, de ter aquele receio extremo de riscar sem querer um dos teus vinis (e que continuo a ter!), mas, sobretudo, de fazer ligar a música que não conhecia às capas que me fartei de ver e ler.

As memórias. Quando me mostraste o "Harvest" e me contaste as tuas histórias da Figueira da Foz, ou quando me ofereceste pelos meus 17 anos o "Por Este Rio Acima".

Ou no dia 28 de Maio de 1998, quando te comprei o "Best of" dos Waterboys, sabendo que irias ficar contente, pois não tinhas nenhum álbum deles.

Ou quando, depois de muitos anos à procura, porque tu os mencionavas com tanto entusiasmo, encontrei o álbum do "Primitive Painters" dos Felt e corri a comprá-lo para ti.

... E vou trazendo um ou outro vinil de cada vez que nos vemos.

Porque continua a ser um grande prazer e porque continua a ser a melhor prenda que tu, ainda hoje, me ofereces. Obrigado a ti, Luis Cunha, meu pai.



2 comentários:

Anónimo disse...

Afinal é herdado...

João Cunha disse...

É, sim. A génese é herdada. :)