sexta-feira, 22 de maio de 2015

O meu legado musical.



A ciência diz que o nosso gosto musical não nasce connosco, sendo construído com base em experiências.

Experiências variadas, mas nomeadamente aquela que adquirimos em casa, de pequenos.

Os nossos pais ouvem música? Que música? Estimulam o ensino de música? Estimulam, sobretudo, a sensibilidade para a música?

Desde (bem) pequena me lembro de ouvir este álbum, de fio a pavio, alto e bom som! Eu esperneava, dizia que não gostava, que o meu pai era chato... Mas na realidade era só para ser teimosa e do contra...

Eventualmente, o meu pai pôs-me a ter aulas de piano, canto e formação musical. Andei uns 2 anos e depois abandonei, mais uma vez, por ser do contra e por teimosia, e por ser preguiçosa! Mas sobretudo porque uma vez que cantei em público correu tão, tão mal, que jurei para nunca mais e desisti. Fiquei traumatizada. Hoje arrependo-me disso...olhando para trás foi uma grande, grande oportunidade. Ok, não me tornei numa artista, mas acho, aliás, tenho a certeza, de que ganhei uma outra sensibilidade para a música que de outra forma não teria ganho.

Lembro-me tão bem, das aulas de formação musical. Aprendíamos a ler pautas, mas dessa parte pouco ficou; as partes que me maravilhavam mais eram mesmo aquelas em que o professor nos dizia "agora fechem os olhos; oiçam isto e, depois, escrevam tudo o que vos vier à cabeça". Exercício que ainda hoje faço, não por obrigação, mas por prazer; nem sempre por escrito, mas, no mínimo, em pensamento. E que sensação maravilhosa! 

Mas voltando ao legado musical que o meu pai me providenciou, e em relação a este álbum: esperneava e fechava-me no quarto a queixar-me que "estava muito alto" mas, por dentro, vibrava.

Este álbum marcou-me assim de uma forma que hoje me transporta ao passado.

E o meu pai merece um agradecimento especial aqui neste blog!

Pink Floyd - e a forma corporal como ele expressava (e ainda expressa) a sua adoração por este álbum, tão intensa e que desde logo me maravilhou - foi apenas um "salto" para tudo o resto que hoje conheço e que considero muito bom. 

Mas este álbum é apenas o mote principal. Entre muitas outras obras clássicas (e de vez em quando ABBA para animar...sim, ABBA!), o meu pai transmitiu-me, sobretudo, um bem que não tem preço: a sensibilidade para a música; o discernimento para separar o que tem qualidade do que não tem.
(e sim, apesar dessa treta politicamente correcta dos "gostos não se discutem", para mim há coisas que têm qualidade e outras que não, independentemente dos gostos de cada um, ponto final. Mas isso são conversas para outro dia!).

Não me vou alongar em análises técnicas, pois para além de não ter conhecimentos suficientes para isso, a música para mim é essencialmente sentir, mais do que ouvir; é escutar com a alma. E este álbum faz-me sentir, literalmente, grandiosa. Independentemente de labels, etiquetas, categorias géneros, ou o que fazem os instrumentos (nunca liguei muito a isso, aos nomes dos artistas ou aos anos em que foram lançados os álbuns, sou muito desprendida disso), faz-me sentir que é uma obra genial, e isso basta-me.


terça-feira, 19 de maio de 2015

À diferença.

Não me lembro bem ao certo como é que a "coisa" começou. 

Mas começo sempre na memória de alguns momentos esporádicos perdidos na infância: a compra do "Welcome to the Pleasuredome" e a subsequente audição numa Sexta-Feira à noite; a cassete gravada com o duplo Best Of dos Creedence a ocupar o lado A e grande parte do lado B (e o Billy Idol para fechar! Sim, lembro-me bem dessa cassete que depois perdi numa visita de estudo a Alcobaça uns anos mais tarde). 

E, talvez com uns 8/9 anos, disseste-me algo assim: "Olha, vou ali ao café. Porque é que não gravas algo bom que passe na rádio?"

Hã? Gravar algo bom? Mas eu só conheço as minhas cassetes (que já foram tuas e andavam lá perdidas em casa da avó, que eu tocava naquele gravador portátil manhoso) que têm artistas que eu não sei pronunciar o nome, quanto mais! Algo bom... conheço as tuas! E lá fiquei parado, sentado no sofá a olhar para os vuímetros digitais do gravador. 

E as cassetes que foram sendo gravadas e me iam sendo entregues... Havia de tudo... (quase) tudo o que não era comercial! E quando era, era porque era bom! A ideia sempre foi esta: "ouve isto que vais gostar". A verdade é que nunca me interessaram as modas musicais ou os artistas da moda. A verdade é que tinha um espólio muito mais valioso para conhecer...

... Como, por exemplo, aquele dia em que fui contigo à Rua Direita e compraste algo intitulado "Led Zeppelin III". E eu, sentado ao teu lado no sofá, sem perceber muito bem a satisfação que tu transmitias a ouvir a "Since I've Been Loving You". Depois percebi. O costume, na maioria dos casos!
 
E no verão de 97 o acesso ao Philips (o teu gravador de bobines!). Um ano mais tarde, numa noite de Verão, fui contigo ao Amoreiras buscar o Pioneer (o teu gira-discos!). A proliferação de coisas novas, de ter aquele receio extremo de riscar sem querer um dos teus vinis (e que continuo a ter!), mas, sobretudo, de fazer ligar a música que não conhecia às capas que me fartei de ver e ler.

As memórias. Quando me mostraste o "Harvest" e me contaste as tuas histórias da Figueira da Foz, ou quando me ofereceste pelos meus 17 anos o "Por Este Rio Acima".

Ou no dia 28 de Maio de 1998, quando te comprei o "Best of" dos Waterboys, sabendo que irias ficar contente, pois não tinhas nenhum álbum deles.

Ou quando, depois de muitos anos à procura, porque tu os mencionavas com tanto entusiasmo, encontrei o álbum do "Primitive Painters" dos Felt e corri a comprá-lo para ti.

... E vou trazendo um ou outro vinil de cada vez que nos vemos.

Porque continua a ser um grande prazer e porque continua a ser a melhor prenda que tu, ainda hoje, me ofereces. Obrigado a ti, Luis Cunha, meu pai.