sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Album Review | Ariana Grande - Sweetener

A Ariana Grande foi uma descoberta relativamente recente para mim (não daquelas all-time-favourite-divas como a Christina Aguilera que oiço quase desde a infância), com o álbum Dangerous Woman, acerca do qual inclusivamente já tinha feito uma crítica aqui. Os outros dois álbuns que ela tinha lançado antes deste, confesso, não prestei muita atenção.

Apesar de ser uma descoberta recente, Ariana prendeu-me desde a primeira audição, com a sua doçura, que é algo que, na minha opinião, a caracteriza; até mesmo nos temas mais "agressivos", ela continua doce sempre. E só de ouvir a voz dela, confesso, apetece-me abraçá-la!

Então, Sweetener não é um título perfeito para o novo álbum dela?! É, sim senhora :D


Ariana Grande - No Tears Left To Cry press shotSweetener é, então, o quarto álbum de estúdio da artista, o primeiro após o acontecimento traumatizante que foi o ataque terrorista que decorreu durante o seu concerto em Manchester, com uma mensagem de não-rendição às tragédias e de "a vida continua", com o poder restaurativo da música.

Não acho que este trabalho esteja ao mesmo nível do Dangerous Woman. Ainda assim, está muito bem conseguido!

Com um álbum pejado de uma alegria discreta (low-key joy) constante, Ariana surpreende-me com o domínio vocal que tem, sendo capaz de passar rapidamente de um registo mais forte para um quase suspiro. E, neste aspecto, consigo compará-la à grandiosa Mariah Carey. Diria até que a Ariana é a Mariah Carey deste século, em muito me faz lembrar (as oscilações vocais, a doçura!)

Sweetener é um álbum dreamy e cheio de nuances deliciosas. Começa com uma faixa em acapella, com a sua inconfundível voz, Raindrops (An Angel Cried), seguindo-se Blazed, faixa que já não me chama tanto.

E a propósito de Blazed, que foi produzida por Pharrel Williams, é importante destacar que 6 faixas deste álbum contaram com a colaboração/produção/escrita do artista, marcadas por idiossincrasias funk-lite que elevam as estruturas musicais mais convencionais do disco. Em Blazed, como já anteriormente referido, e REM, por exemplo, detectamos logo a presença de Pharrel.

Escrita por Beyoncé, esta é uma das minhas faixas favoritas! Tão dreamy, tão joyful, tão leve e deliciosa. As diferentes texturas e camadas em tom de quase brincadeira, os tons gospel, a execução quase rap de Ariana. Esta música fala de sonhos e de não querer acordar deles.

(Infelizmente, a faixa REM ainda não está disponível para audição na internet)

Segue-se God Is a Woman, que é já um dos hits mais atuais!

Cheia de energia feminina, Ariana aborda novamente o tema da Mulher - no álbum anterior, com o single "Dangerous Woman", e neste, com o single "God is a Woman".

God is a Woman é um tema desafiante, que acaba por misturar religião com sexualidade, uma vez que está subjacente que uma experiência sexual é algo divino, e subvertendo o "pecado do sexo" como uma sugestão de que o mesmo tem propriedades redentoras, ao invés do que está estabelecido na religião.

A faixa é de empoderamento, dominância feminina e liberação sexual. Ariana canta a sua rebelião contra a expectativa, "And I can be all the things you told me not to be", e desafia o status quo de que deus é uma figura masculina e paternal.

A faixa homónima ao nome do álbum, Sweetener, volta de novo à onda doce de Ariana, arriscando eu dizer que toda ela tem um certo tom natalício, e com sintetizadores, no refrão, que nos transportam de volta para os anos 90 (algo que tem sido tendência da música comercial hoje em dia, ir reciclar sonoridades que eram populares nesta década). Também, ainda no refrão, a line "get it, hit it, flip it" repetida é verdadeiramente catchy!

Successful e Everytime, faixas que se seguem, muito honestamente não me dizem nada e são pontos fracos deste álbum. Successful é só arrogância e auto-promoção sem qualquer conteúdo.  E Everytime, simplesmente não me convence.

Breathin' é outro dos hits mais atuais, e das principais faixas do álbum. Com uma sonoridade muito expansiva e, na minha opinião, até algo futurista, é muito "anos 2000", transmite-me um feeling altamente imersivo. A-dorooooo, mais uma vez, as passagens vocais repentinas dela, particularmente nesta faixa na line "Time goes by and I can't control my mind".



No Tears Left to Cry surge novamente com um tom futurista e atual, com uma forte mensagem de "I'm over it". Sofreu, chorou, e agora está num state of mind em que já nem lágrimas tem, mas não quer sair desse estado; talvez um estado de nirvana? Um sentimento de descoberta de uma nova fase de felicidade após um período de sofrimento. She's livin' it and she's lovin' it.


Right now, I'm in a state of mind

I wanna be in, like, all the time

Ain't got no tears left to cry

So I'm pickin' it up, pickin' it up (oh yeah)

I'm lovin', I'm livin', I'm pickin' it up



Borderline surge como uma canção que parece que tem pressa de acabar. Tenho mixed feelings em relação a esta faixa! Se, por um lado, adoro aquela combinação sintetizador-batida, por outro lado, há algo na sua sonoridade que me faz lembrar um anúncio de TV. 

Better Off é a balada do álbum, toda ela, lá está, com aquele ar queridinho, tão característico dela. Uma balada eletrónica calma, não das melhores que já ouvi, mas que aquece o coração!




(snippet da faixa)

Goodnight N Go, bem como Pete Davidson, são também duas faixas que não me aquecem nem me arrefecem.

E o disco termina com Get Well Soon, para mim, também uma das melhores faixas! Muito jazzy, muito smooth, transporta-me para um outro mundo, o mundo em que estou a cantar com ela.


(snippet da faixa)

De um modo geral, achei um trabalho extremamente coeso, que se coaduna com e mantém-se fiel à identidade de Ariana (a que ela passa para o público, que me parece ser genuína). Gosto mais do álbum anterior, Dangerous Woman, sem dúvida. Mas Sweetener é, e como o próprio nome indica, sweet mais do que suficiente para já me ter prendido e ser o meu álbum de eleição em repeat desde que saiu!