segunda-feira, 18 de julho de 2016

NOS ALIVE '16 - parte II

Tal como tinha dito no último post sobre este grande festival, ainda não tinha decidido se o segundo ou o terceiro dia tinha sido o melhor. Continuo sem saber... talvez depois deste post saiba :P

CALEXICO

Primeiro concerto que vi e que muito honestamente não me convenceu nada. Tem um tom demasiado latino, semelhante à banda sonora da série "Dexter" (série que adoro e é só das minhas favoritas), que eu sempre gozava! :P Dizia sempre "esta série tão genial, nada tem a ver com a música... parece que entrei num bar de salsa". Estava lá no concerto, a tentar achar piada, e ele vira-se e diz "parecem as músicas do Dexter". E eu: YAAAAAAAAAAAAAA é isso mesmo. Não. Não gosto. Next! :P

JOSÉ GONZÁLEZ

Tem imensos fãs e sei que vou ferir muitas susceptibilidades (epa, mas gostos são gostos!), mas vou resumir a coisa assim: um homem com uma guitarra a cantar country e folk de forma acústica não é de todo a minha cena. Ainda ouvi 2 ou 3 músicas até que decidi que jantar teria sido melhor ideia :P


PAUS

Não. Não, não e não. Acho uma certa piada àquela música que é "é a fome que nos une, é; é a sede que nos junta" (tive preguiça de ir procurar o nome da música). E pensei que por isso até podia achar piada às outras. Nope. Too metal, too heavy para mim, e pouco melodioso. Apesar de, na página de Facebook deles, dizerem que o género é "free" (vejam bem como eu me dei ao trabalho de ir procurar, para não dizer bacoradas, ao contrário do nome daquela música, lol), para mim aquilo soa-me a um rock demasiado pesado para a minha onda! Para mim, pouco passa de barulho. Barulho, barulho, barulho e pouco que se esprema dali. 

ARREPENDIMENTO AMARGO: não ter visto Francis Dale (como deve ser). Conhecia uma ou outra música e achava bastante piada - influências RnB, meio alternativo, com uma linha de baixo bem saliente, meio soul, e muito semelhante a James Blake (que por sua vez adoro) - mas  por alguma razão estúpida acabei por não ir ver. Quando saí de José González e fui jantar mesmo em frente ao palco NOS Clubbing é que pensei "porra. tempo desperdiçado ali do outro lado quando podia ter estado aqui". Aquele beat tomava conta de mim, mas quando lá cheguei o concerto estava a acabar! Bolas.

Para resumir a primeira parte do terceiro dia: desastre. Detestei os 3 artistas/bandas que vi e perdi um artista que gostaria de ter visto e conhecido melhor, e só apanhei as últimas duas músicas com uma Calzone na boca.

Depois disto, tudo mudou.

ARCADE FIRE

Gostei muito, mas não adorei. Destaques para: Ready to Start, Reflektor (love, love!), Afterlife (love, love, love!), My Body is a Cage (love, love, love!), Rebellion (Lies)... e a melhor, a que gosto mais de todas, a No Cars Go. No Cars Go é uma canção absolutamente maravilhosa que me faz sentir feliz e triste ao mesmo tempo, quase que me faz chorar, e foi muito bem interpretada. 

CRÍTICA: o som estava péssimo, pelo menos de onde eu estava. Juro que parecia que eles estavam a cantar debaixo de água. O som dos instrumentos, dava a sensação constante de subir e baixar de novo o volume. Não estava clean, não estava claro, não estava sólido o suficiente. Não sei qual foi o problema, se do equipamento deles se do local onde estávamos... mas do local não deveria ser, pois tinha assistido a outros concertos mais ou menos no mesmo sítio (por exemplo Tame Impala) e o som estava ótimo.

Foi um bom concerto mas, infelizmente, podia ter sido melhor, por uma questão técnica de som. Estava com expectativas um pouco altas demais: só tinha visto Arcade Fire uma vez e não tinha gostado; mas depois, com o tempo, conheci mais coisas deles e comecei a gostar mais; como eles têm uma legião de fãs tão grande, pensei que ao vivo fossem awesome mas... não achei nada de especial, sinceramente.

Não encontrei o concerto completo, por isso, deixo a música que, para mim, é a melhor deles:

 

Já agora, uma coisa meio parva que eu já reparei e que se prestarem atenção também vou reparar: os Arcade Fire adoram as vogais do alfabeto. Adoram! Porquê? A maioria das músicas tem, senão no refrão, pelo menos na bridge, ou "aaaahhhh" ou "eeeehhhh" ou "aaaaaeeeeeh" ou "uuuuhhh" ou "oooohhhh". A sério. Oiçam lá umas quantas músicas (pelo menos as mais conhecidas) para ver se não tem sempre uma parte assim. Não é uma crítica... é uma constatação de um facto! :P

E agora é aquela parte em que vocês perguntam: "Mas...se tudo foi assim tão mau, se viste 3 concertos que não gostaste em vez de um que ias adorar, se Arcade Fire até nem foi nada de especial..... porque é que ainda há dúvidas que o dia 2 foi, definitivamente, o melhor?"

E eu respondo, com uma letra e dois números:

M83!!!!!!!!!!!!!!

M83 partiu tudo.
Estava num estado de êxtase tal (natural, porque sou hiper mega fã! :P ), que nem sentia as dores de pés, pernas e costas, já acumuladas dos dois dias anteriores, que se fizeram sentir em todos os outros concertos. Eu era pular, eu era cantar, não houve uma única música que eu não soubesse de cor. 

M83 é uma das bandas da minha vida, marcou uma fase muito especial da minha vida, vivi momentos verdadeiramente inesquecíveis e só de ouvir é como se me transportasse de novo para essa altura e como se vivesse lá outra vez. Como o meu grande, grande amigo Jan diz, "music is the jar" - no sentido em que a música é como se fosse uma caixa onde guardamos os nossos melhores momentos, e que podemos abri-la sempre que quisermos revivê-los. M83 é isso, para mim, é a jar. Adorava ter visto o concerto com o Jan porque ele percebe o meu nível de fanatismo, mas o meu outro amigo que estava comigo, o Samuel, também o percebe, por isso curtimos tanto, mas tanto, este concerto!!! :D

Pena a gravação estar com uma qualidade péssima, mas infelizmente M83 não tem assim tantos fãs (consegui ficar muito à frente e ainda ter espaço, pois o público não era muito, o que até gostei porque assim tive mais espaço para dançar e me expressar!), e também não há muitos vídeos no Youtube.

Mas este foi, mesmo, um dos melhores momentos para mim:



Foi PERFEITO, tudo, os temas escolhidos, a setlist, o som, a interpretação ao vivo... o único defeito que teve foi ser demasiado curto. Foi 1 hora. 1 HORA!!! Bem que podiam ter lá ficado mais uma, no mínimo! (e repertório para isso não lhes falta).

Portanto, M83 basicamente compensou de uma forma astronómica, o resto do dia que não me agradou tanto.

Em resumo: arrisco-me a dizer que M83 esteve ao mesmo nível de Radiohead (claro que eu sou altamente suspeita por estar a dizer isto! :P ) Não sei de qual banda gosto mais, nem sei de qual concerto gostei mais. Estão no mesmo patamar, muito lá em cima mesmo. 

GRIMES

E depois do concerto de M83, ainda fui a tempo de ouvir a última música de Grimes. Ele adora (separámo-nos e decidimos que cada um ia ver o que entendesse), eu nem por isso (acho uma certa piada porque lá está, tenho uma queda para pop), mas devo admitir que aquela música é verdadeiramente contagiante.

Foi um excelente Festival, com concertos muito, muito bons e... enfim, espero que o cartaz do próximo ano seja tão ou mais aliciante e caso sim, lá estarei a marcar presença. :)




quinta-feira, 14 de julho de 2016

NOS ALIVE '16 - parte I

3 DIAS CHEIOS DE EXCELENTE MÚSICA E UM AMBIENTE AINDA MELHOR.

Adoro festivais de música porque mostram que, independentemente do género ou exposição comercial (comercial, alternativa, ...), a música UNE MUITO AS PESSOAS. Todo o tipo de pessoas! É transversal a idade, classe social, religião ou cultura. A música une. E une tanto como o futebol. É lindo de se ver, um público a cantar em uníssono.

Para mim, atualmente o NOS Alive é o melhor festival do mercado. Tem sempre o melhor cartaz, mais completo. Atenção que isto é apenas e só a minha opinião. Há quem prefira outros festivais e ache que são melhores. Para mim, é este, particularmente pelo cartaz. Também gosto do ambiente que se vive neste festival. Não há confusões, não há violência nem agressões. Nota-se que a esmagadora maioria das pessoas que frequenta este festival são pessoas easy going, que estão ali para se divertir, que são pessoas de paz e na boa. Um público um pouco mais adulto e sobretudo maduro comparativamente a outros festivais muito aclamados mas que o ambiente não é tão bom.

Deixo agora uma opinião sucinta sobre os concertos a que assisti e o que achei dos mesmos.

DIA 1 - O menos forte
 (ia dizer o "mais fraco" mas não é justo, vá)

JOHN GRANT

Muito, muito bom! Já conhecia e adorei o concerto. Tem uma voz potentíssima este homem. Especialmente a Queen of Denmark, que canto sempre com todo o ar que tenho nos pulmões :D



SOULWAX

Não conheço muito e não sou grande fã. Gosto do tipo de música, mas para mim é muito igual a si mesmo. Ou seja, ouvir uma música e depois ouvir outra, para mim soa-me um bocado igual. Mas ao vivo são de facto impecáveis.

PIXIES

Já tinha ouvido falar bem, mas não conhecia nada. Detestei do início ao fim e já só queria sair dali à terceira música. Fui ver mais por "peer pressure" :P Mas é sempre bom ter estas experiências: não conhecia, passei a conhecer e fiquei a saber que não faz nada o meu género de som.

THE CHEMICAL BROTHERS

Conheço e gosto, sobretudo o álbum Further. O concerto foi bom, muito bom, but then again, um bocado mais do mesmo. Chegou um ponto em que enjoou um bocado.

Portanto, para mim o dia 1 (e sim, sei que vai ferir susceptibilidades) foi mais para me cansar, para estar em pé cheia de dores nas pernas e nas costas porque estava com pessoas que queriam muito ver, e para conhecer o recinto e o festival. E curti-las, claro. Em termos de música... o melhor ainda estaria por vir.

DIA 2 - O SEGUNDO MELHOR OU PRIMEIRO MELHOR?? AINDA NÃO DECIDI!!!

Aqui sim, as coisas começaram a ficar sérias!

Neste dia, éramos um grupo de fãs acérrimos de Radiohead, por isso decidimos que, apesar do concerto ser às 23h45, devíamos marcar lugar em frente ao palco às 18h. E assim foi. Ou, pelo menos, a ideia era essa!

YEARS & YEARS
Levámos com Years&Years que  atuava no palco principal ao fim da tarde, e admito, apesar de ter um tom um bocado Justin Bieber, com uma kizomba lá pelo meio em algumas músicas, de forma geral gostei bastante, tem uma muito boa energia e é extremamente pop (e eu adoro pop, sobretudo eletrónico). Olha, gostei 10 vezes mais do que Pixies! Foi uma boa forma de marcar lugar em frente ao palco... rodeados de miúdas histéricas de 16 anos.

E pensámos nós, agora vamos ficar aqui. É o ficas! Um maralhal de pessoas começou a chegar e depois de quase ter sido esmagada, decidi que não ia ficar ali até às 23h45, sou fã dos Radiohead mas sou mais fã de poder respirar ar puro sem os meus órgãos internos serem sufocados. Portanto, fugi. Ouvi Foals assim de longe. Só conheço uma música deles e detesto. Por isso não fazia questão de ficar por lá. Ou seja, levei com o concerto de Years&Years todo para nada. Mas não foi tudo perdido. Gostei de cerca de metade!!!

TAME IMPALA

Jantar e umas voltas dadas ao recinto, quando chegou a hora H, ou T neste caso, lá estávamos nós para ver os brilhantes Tame Impala. Já tinha visto, ou ouvido ao longe, Tame Impala, no Super Bock Super Rock de 2014, mas na altura ainda não conhecia. Lembro-me de ouvir e achar o máximo e, aliás, foi isso que depois me levou a conhecer melhor a banda. Adoro de paixão os álbuns Lonerism e Currents, por isso a minha expectativa recaía toda sobre esses dois trabalhos. O Innerspeaker também tem algumas coisas que me agradam bastante, mas não tanto.

Naquela sua onda psicadélica, Tame Impala cumpriram o que prometeram. Tame Impala foi dançar, cantar, e deixar que aqueles sintetizadores tomassem conta de mim. As melhores canções foram revisitadas, apenas fiquei triste de não terem tocado a "Endoirs Toi". É "só" o meu tema absolutamente favorito de Tame Impala! Por outro lado, fiquei agradavelmente surpreendida por terem terminado o concerto com "New Person, Same Old Mistakes". Eu e um amigo meu, ambos hiper mega fãs da banda, pensámos exatamente no mesmo mas só depois do concerto falámos sobre isto: ambos pensámos "fogo era tão fixe que eles tocassem essa música, mas não devem tocar", e não é que, completamente sem esperar que isto acontecesse mesmo...... eles saem-se com a New Person, Same Old Mistakes? 



 
Foi mágico, mágico, mágico. AMEI.

Tame Impala para mim não foi o melhor concerto, mas foi um dos que teve melhor feeling e melhor público.

Com o sol a pôr-se por detrás do palco a acompanhar os espetaculares efeitos produzidos no palco, os confettis que atiraram para o público completamente iluminados pela luz do palco (o que fez um efeito fantástico), e aquela sensação tão "spacey" e feliz que Tame Impala proporciona, foi o melhor pré-aquecimento (para o que viria a seguir) que podia haver!


RADIOHEAD!!!!!!!

Ainda mais do que Tame Impala, que para mim foi um pré-aquecimento excelente, Radiohead é e continua a ser a melhor banda do mundo para mim. Por isso, esse sim era o momento do dia, ou da noite :D

Acho que tive um mini ataque de ansiedade, algo que NUNCA me tinha acontecido, que foi: sentir que ia morrer por estar a ser empurrada por tantas pessoas. Senti-me tão mal, de não ter podido ficar com os meus amigos que também são tão fãs de Radiohead, e que ficaram mais à frente. Arrependi-me tanto, depois, mas naquele momento... nem sei explicar o que me aconteceu. Estava tão ansiosa para vê-los que o meu cérebro levou a ansiedade para o sítio errado. Porra! Odiei isso. Nunca me tinha acontecido, nunca tive problemas com multidões, mas estava num estado tal que nem sei.

Enfim, lá fui com ele para um local com menos gente mas tive de ficar mesmo ao lado de uma coluna. Ok, não vi os pormenores da cara do Thom Yorke, mas deu para ter uma visibilidade bem satisfatória e o som, nem se fala. Senti-o com todas as células do meu corpo.

Mas sobre o concerto propriamente dito: absolutamente memorável mas com algumas coisas a apontar. Começaram pelas primeiras 5 músicas do novo álbum A Moon Shaped Pool; quando chegaram à Ful Stop já eu estava a pensar "será que eles vão mesmo limitar-se a tocar simplesmente as músicas do novo álbum, e ainda por cima por ordem?" Que falta de originalidade! Ainda por cima, a Burn The Witch não estava no seu melhor, na minha opinião. Faltavam os violinos, inexistentes ao vivo. Ok, é uma forma diferente de tocar a música... mas para mim, melhor a versão do álbum, ou melhor que tivessem tentado uma cópia fiel. Essa música quase que ficou "nua" sem os violinos. Por isso não me soube ao mesmo!

Enfim, depois desse início que considerei mais fraquito, e das 5 primeiras músicas do novo álbum (todas elas perfeitamente interpretadas), e quando já toda a gente estava à espera da 6ª, pumba eles saem-se com My Iron Lung. Pumba, inesperado, logo aí não estava nada à espera, PONTOS!!! Agora, depois desta quebra - não vou estar a detalhar-me em cada música, porque à excepção da Burn The Witch, todas foram impecavelmente interpretadas ao vivo (com especial destaque para "Everything In Its Right Place", "Lotus Flower" e "Idioteque", que quase merecem uma menção honrosa) - foi uma mini tour a quase todos os seus álbuns, excepto o Amnesiac, nesse não tocaram.

TERIA SIDO PERFEITAMENTE DISPENSÁVEL a Karma Police e a Creep. Não entendo a febre das pessoas com estas duas músicas, quando há tantas outras que são perfeitas e que ficaram a faltar, nomeadamente: The National Anthem e Jigsaw Falling Into Place. Por favor! Ficaram a faltar-me estas, e muito (e mais algumas, mas estas duas em particular). Mas, vá... dou de barato que a Creep foi um momento lindo em termos de público, tudo a cantar, tudo emocionado, lindo!!! E é por isto que eu digo que é lindo ver como a música une as pessoas.

No final do concerto, só conseguia pensar e dizer "ai meu deus". Como disse, não foi perfeito. Ficaram a faltar algumas. Ainda assim as minhas expectativas (já de si muito altas) não foram de todo defraudadas.

Os Radiohead simplesmente não sabem fazer má música ou dar maus concertos. E das coisas que mais aprecio neles é a forma como se reinventam sem se repetirem. Eu, pessoalmente, não acho grande piada aos primeiros trabalhos deles antes do OK Computer, daí para a frente é tudo simplesmente brilhante.

E é incrível como eles são capazes disto mesmo: tu ouves, sabes que são eles, porque é um estilo único, e continuam a lançar temas e álbuns novos que tu ouves e continuas a dizer "isto é mesmo Radiohead" mas sem dizer que é "mais do mesmo" - dizendo, em vez disso, "isto é mesmo Radiohead. Continuam a fazer aquilo que fazem melhor, mas de uma forma totalmente reinventada". É simplesmente inigualável. Sim, a palavra que melhor se adequa aos Radiohead é: INIGUALÁVEL.

Com não um mas dois "coming back"'s (ou encores), em que já toda a gente pensava que o concerto tinha acabado mas afinal não... enfim, isso partiu tudo mesmo!



E isto foram os dois primeiros dias. Quanto ao terceiro........ TO BE CONTINUED! :P


domingo, 3 de julho de 2016

A Moon Shaped Pool - Radiohead

Queria escrever uma review ao novo e maravilhoso álbum dos Radiohead, porém, encontrei uma review tão bem escrita, tão poética e com a qual concordo TANTO, que resolvi colocá-la aqui.

(com os devidos créditos no fim, claro!)



Há um mês, no passado dia 8 de maio, entrámos numa nova Era. O pós-A Moon Shaped Pool. O preâmbulo ditado pela publicação de novo artwork, deleção da presença online e lançamento de músicas, culminou num domingo que mudaria o mundo. Parece exagerado, mas, numa Era em que tudo é escrutinado, antecipado e especulado, o lançamento de mais um álbum por uma banda determinante como os Radiohead é como uma pedrada no charco inquinado de informação passageira. É um marco na história musical.

A Moon Shaped Pool não só cai como uma bomba inesperada no mundo musical, como se destaca por ser precisamente o inverso de uma bomba. As reacções dividiram-se e um motivo que poderá ter potenciado isso é o facto de que, dada a dimensão da banda, as pessoas esperariam algo épico, algo que mudaria o mundo. Mas… o que é isso, ao certo? Acho que ninguém sabe.

Em termos sónicos, o álbum é ponderado, tranquilo e delicado. À primeira vista, pode até passar despercebido. O nome, A Moon Shaped Pool, remete, literalmente, para um universo aquático e astronómico. Isso resulta em canções espaçosas e amplas, com uns laivos de Kid A, mas adicionando uma componente aquosa, que torna parte da experiência algo como ouvir música debaixo de água, numa piscina larga, e outra parte algo como flutuar no espaço sideral.

“Burn the Witch” será o número que mais se afasta deste universo. Não é por acaso que foi a porta (de madeira, pintada com uma cruz vermelha) de abertura para o disco, sendo o primeiro single lançado, uma espécie de preparação para o que aí vinha. Os violinos épicos propulsionam uma batida que não estaria deslocada de uma canção de hip-hop, e conjuram um mix estranho que se vai entrosando em nós da mesma forma deliciosa que as melhores músicas da banda o fizeram. Um clássico quase instantâneo.

Já “Daydreaming” marca então o mood principal do álbum, pacientemente revolvendo à volta das mesmas teclas que se vão somando, como se subíssemos uma escada em espiral. Subindo e subindo até ao clímax, à tona da água, que revela a luz do dia. Tão forte, que o sonho quase cruza a barreira para a realidade. Ouvir isto é das experiências mais próximas que se tem de sonhar acordado.

Daqui em diante, estamos imbuídos na piscina de sintetizadores, cordas, teclas, baixo e ecos, que, numa produção cristalina, elevam músicas tão simples como “Decks Dark” ou “Desert Island Disk”, o par mais bonito e interligado do álbum, enviando ondas de som para cima, onde alumiam suavemente a música como a luz da Lua.

Sabemos que a coisa ficou séria quando a batida ameaçadora de “Ful Stop” vem de sabe-se lá onde, na canção que provavelmente se destaca mais numa primeira audição. É quintessential Radiohead, e tira qualquer dúvida aos cépticos. Os seus 6 minutos corpulentos são dissolvidos pela faixa mais etérea, “Glass Eyes”, que é tão linda como desarmante. Uma performance de Thom Yorke que nos faz largar tudo e ouvir com atenção o que aconteceu depois do mesmo sair do comboio (“Hey, it’s me/I just got off the train”). Por algum motivo, é a peça central do álbum, e aquela mais reminiscente da imagem da capa. Há tantos estímulos sensoriais providenciados por ela, que devem ser deixados ao critério de cada um.

Já “Identikit” vai e vem, e é outro dos highlights iniciais do álbum, sendo possivelmente a música mais acessível e talvez aquela à qual é mais fácil voltar sem se ouvir o álbum todo. “The Numbers” tem Jonny Greenwood escrito em todo o lado, devido às cordas maravilhosas, ancoradas pela base rítmica mais aquosa do álbum. Ouvir esta música é nadar de costas virado para um céu estrelado, com o qual nos misturamos no final.

“Present Tense” traz-nos de volta à terra, num abraço quente e terno. A água da piscina está fria, precisamos de amigos que nos envolvam numa toalha e que se juntem a nós num coro divino. Esse coro será o momento vocal mais despreocupadamente jubiloso e libertador do álbum, após o qual, “Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief” nos leva de volta às alturas, com um ritmo levíssimo que a leva a pairar. A transição é de génio e eis que nos chega… “True Love Waits”.

Não vale a pena dizer mais nada. De luzes apagadas, através de umas colunas ou auscultadores, é deixar o álbum fluir e espalhar-se pelo espaço vazio, deixando a piscina encher-se de som. Essa experiência sensorial evocada será uma das maiores virtudes deste álbum, e que o fará perdurar ao longo dos tempos.

Após discos a focarem-se no mundo em redor, provocando a opinião pública e criando thinkpieces sobre o estado da sociedade, os Radiohead encontram-se, agora, mais a olhar para dentro. E porque não será essa a verdadeira revolução actual? O virar-se para o eu mais profundo numa Era tão demarcada pela perda de individualidade?"

Fonte: Comunidade Cultura e Arte; artigo original AQUITexto de Bernardo Crastes


Como disse inicialmente, concordo a 200% com esta review e sinto/penso o mesmo.


As minhas absolutamente favoritas são: Burn The Witch, Decks Dark, Ful Stop, Glass Eyes, Identikit, The Numbers e Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief (especial destaque para esta última que AMOOOOOOOO)


Present Tense, True Love Waits e Desert Island Disk, muito honestamente, não me dizem grande coisa.


ESTOU HIPER MEGA ULTRA CURIOSA PELO CONCERTO DESTE MENINOS NO NOS ALIVE, ESTOU ENTUSIASMADA, ANSIOSA E MUITO MUITO EXPECTANTE!!! 

Venham eles que eu vou estar com toda a certeza na linha da fente!!! :D