quinta-feira, 28 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Bruno Mars – Funk & Fogo de Artifício

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Rock in Rio Lisboa 2018 | Bruno Mars – Funk & Fogo de Artifício


Bruno Mars é, frequentemente, referenciado pela imprensa como sendo o novo Rei do Pop. Uma comparação clara e direta ao grande Michael Jackson. Ainda que seja uma comparação algo ousada (e muito subjetiva), facto é que os trabalhos artísticos de ambos partilham particularidades muito próprias, misturando estilos como pop, funk, soul, blues, R&B, synthpop e uma pitada de hip-hop, formando tons e ritmos únicos e tornando as obras de ambos extremamente completas. Já para não falar no enorme carisma que têem os dois artistas, assim como a excelente habilidade para a dança. 

Talvez por ser comparado a tão grandiosa figura artística, sendo nomeadamente vencedor de inúmeros prémios, Bruno Mars é uma das sensações do momento e foi o único que, este ano, esgotou a lotação máxima do parque da Bela Vista. “Finesse”, o seu mais recente single, é o tema de abertura, trazendo a 2018 sons dos anos 90, com a sua linha de bateria constante acompanhada de efeitos sonóricos nostálgicos. O mote para um concerto todo ele marcado por uma onda old school e funk constantes – como, de resto, está presente um pouco por todos os álbuns do artista. 

Segue-se outro grande êxito do momento, “24K Magic” - numa mistura daquela vibe old school muito própria dele, mas com elementos muito atuais – voltando, de seguida, ao seu álbum anterior, com “Treasure”. Sempre numa onda de energia e boa disposição, temas como “Perm” e “Chunky” levam o público ao rubro. 

Para além das músicas, os efeitos de luzes foram também uma constante, criando um cenário visual impressionante – incluíndo espectáculos de pirotecnia e fogos-de-artifício não só fora, como dentro do palco, no seu expoente máximo duante o tema “Locked Out of Heaven”. Afinal, que mais pede a música de Bruno Mars, que não festa, confettis e alegria, numa atitude de felicidade contagiosa?! Uma energia absolutamente incrível. 

E com um “Lisbon! Come On!” adivinha-se outro grande hit, “That’s What I Like”, levando quase ao êxtase os fãs mais apaixonados... por um artista com um charme incrível e um talento impressionante! Este tema foi muito bem interpretado, com um final em acapella fascinante, back vocals masculinos, numa onda apaixonadamente soul. Aqui se notou bem a interação que Bruno tem com a sua banda, composta por cinco músicos, dançarinos e artistas; tão fluída, tão bem orquestrada e sincronizada, capaz de trazer um fluxo de energia extraordinário que transparece e contagia quem assiste. 


Mas nem só de êxtase e entusiasmo se fez este concerto. Numa onda mais romântica (e, lá está, nunca é demais repetir, extremamente soul-funk), as baladas “Calling All My Lovelies”, “Versace On The Floor” (antecedido por um solo de saxofone absolutamente maravilhoso) e “When I Was Your Man” fizeram as delícias dos corações mais apaixonados da plateia, cujas lanternas do telemóvel conseguiram iluminar todo o espaço de recinto em frente ao palco. Especialmente em “When I Was Your Man”, canção que o artista canta praticamente em acapella, acompanhado apenas pelo coro da sua vasta legião de fãs. Floreando e prolongando-se em cada final de cada balada, presenteando-nos com repetições do refrão e arranjos vocais elaborados a solo e em coro, pejados de romantismo e até meio cheesy, que faz lembrar os não menos míticos no mundo pop/soul, Boyz II Man. 

Ainda que este concerto se tenha centrado maioritariamente no seu mais recente álbum, 24k Magic, o artista não podia deixar de nos brindar com alguns dos seus temas de sucesso mais antigos, entre os quais “Runaway Baby”, “Just The Way You Are” e “Marry You” (as três do seu primeiro álbum), – com direito a uma breve atuação só em guitarra (num primeiro momento, a solo), mostrando mais uma vez, que Bruno Mars é um jovem artista muito versátil nos seus talentos. 

E após um show deslumbrante e muito, muito intenso, para o já tão esperado Encore, tivemos um outro grande êxito: “Uptown Funk”. Como era de esperar, um dos momentos mais UP da noite. Para acabar este show de funk, literalmente, em altas! 

Bruno Mars trouxe funk, fogo de artifício e extravagância a Lisboa. Desaparece, agora, por detrás de uma enorme nuvem de fumo branco. Rebuscado, como ele é.

Cláudia Silva - Texto escrito para o site Echo Boomer.


terça-feira, 26 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Demi Lovato – Toda a garra do mundo na sua voz

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Demi Lovato


Se há palavra que descreve, na perfeição, Demi Lovato, essa palavra é (e à falta de melhor tradução em português) fierceness. E é com essa fierceness que a artista sobre ao Palco Mundo do Rock in Rio-Lisboa, e abre o espetáculo – o primeiro de Demi em Portugal – com o tema “Confident”. “What’s wrong with being confident?” é a frase que é repetida no refrão, mostrando que estamos perante uma mulher confiante em si mesma, com uma indescritível e contagiosa atitude de poder. Muito girl-power-like, de uma artista que começou como atriz infantil na Disney, e se transformou na mulher que é hoje.

Segue-se o grande hit “Cool For The Summer” – com uma atitude bem atrevida acompanhada de sintetizadores bem garridos, eis mais um tema extremamente atual e catchy. Em “Heart Attack”, conseguimos perceber claramente (tanto ao vivo, como no tema original do álbum) a influência power pop – um subgénero de rock caracterizado pelo uso de melodias fortes que, combinadas com riffs de guitarras, formam uma estrutura rítima característica do hard rock mas com uma sonoridade extremamente pop – bem presente no trabalho da artista. Mas foi “Neon Lights” que pôs a plateia da Bela Vista (completamente lotada, por sinal) aos pulos, literalmente.


Demi não é de falar muito com o público mas, após uma ou outra palavra mais tímida, brinda-nos então com dois temas muito dançáveis e apelativos – “Sexy Dirty Love” e “Daddy Issues” – intercalados com a naughty “Games” e a pop punk “Really Don’t Care”.

Em contraste com, por exemplo, uma das suas conterrâneas – Ariana Grande, com aquela sua doçura imensa – Demi apresenta um timbre de voz mais seco, salgado (por oposição ao doce). Esta característica da sua voz é clara mesmo nas suas baladas mais melancólicas, tais como “Concentrate”, “Don’t Forget”, “Sober” (esta última escrita pela própria, a propósito do seu histórico de vício em drogas, e lançada há apenas cinco dias), a tão conhecida e badalada “Stone Cold” – cuja primeira estrofe toda a gente sabia de cor, e quantas lágrimas não rolaram! – e “Scyscraper” (uma das canções mais bonitas que ela já fez). 

Após uma mudança de vestuário, o show continua, e muito bem, com um dos temas mais comerciais do momento, “Promise me no Promises” (originalmente de Cheat Codes, e na qual Demi participou). Seguem-se “Échame la culpa” e “Solo”, dois momentos dos mais festejados, mas que destoaram, por completo, de todo o concerto. O reggaeton característico destes dois temas em nada se encaixa no resto do repertório, o que acabou por ficar um pouco fora de contexto. 

Mas terminou em grande, com “Tell Me You Love Me” e “Sorry Not Sorry”, com back vocals que encheram ainda mais duas músicas já de si tão cheias de power, e que fizeram as delícias para os fãs mais acérrimos.






Ainda que esteja longe de ser uma das melhores vocalistas pop (quando comparada, por exemplo, a outros nomes atuais como Christina Aguilera ou Beyoncé), e ter ainda muito por onde crescer, é de destacar que Demi canta de forma irrepreensívelmente afinada, tendo conseguido superar as notas mais desafiantes, mesmo ao vivo. 

Quase, quase o suficiente para nos fazer arrepiar. Ainda não chegou lá, mas tem muito potencial. O que não lhe falta é, certamente, a tal fierceness para ser vencedora no que faz!

Texto original para Echo Boomer.


segunda-feira, 25 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Carolina Deslandes – O Dia Mais Feliz das Nossas Vidas

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Carolina Deslandes  

Carolina Deslandes é, atualmente, um das figuras artísticas mais reconhecidas no panorama musical nacional. Tendo iniciado o seu percurso no concurso de talentos Ídolos, em 2010, já nesta altura demonstrava um talento que prometia. 

Prometia e cumpriu. Em 2016, lança o seu primeiro álbum de estúdio, Blossom. Tal como o nome indica, representava a desabrochar de Carolina enquanto artista, mas também enquanto mulher. Num registo muito pop electrónico, conta com um conjunto de temas bastante atual, jovem, teen, contemporâneo, irreverente até. E foi precisamente com um tema do álbum Blossom que Carolina Deslandes abriu o seu concerto no palco Music Valley, do Rock in Rio-Lisboa, no final da tarde deste primeiro dia de festival. 

Apenas com o instrumental de “What Do You Know, Boy?” – percetível certamente apenas aos mais atentos e conhecedores deste seu primeiro álbum, Carolina entra e é recebida com euforia, e o concerto prossegue dentro do mesmo registo, com os cativantes temas “Fuse” e “Carousel”, iniciando, assim, o concerto numa high-note e com sentimentos de positivismo e alegria. Após um breve discurso e agradecimento da artista, que mal acreditava estar a pisar um palco deste reconhecido festival, Carolina dá as boas-vindas ao seu público de uma forma muito sua: “Sejam bem-vindos ao dia mais feliz das nossas vidas!”. 

Ainda do seu primeiro álbum, tivemos o tema “Mountains”, um dos seus singles mais conhecidos, em parceria com o Agir – amigo que, afirma com emoção, ter sido a pessoa que fez com que ela voltasse a abraçar a sua carreira, num momento em que não tinha perspetivas nem esperança – e “Heaven”, balada dedicada ao seu falecido avô, em jeito de homenagem. 

Até agora, Carolina apresentou ao público dois álbuns que marcam por serem contrastantes. Se o primeiro (Blossom) é claramente mais pop, dançável, eletrónico – registo com o qual abriu este concerto – já o segundo é, como o próprio título indica, um regresso a Casa. Se, no primeiro álbum, a artista quis sair da sua zona de conforto, arriscar, procurar incluir inspirações do panorama musical comercial atual (Rihanna, por exemplo), no álbum Casa, Carolina surge mais aquilo que ela é. A Casa é, sem dúvida, aquilo que ela é. Uma singer-songwriter pejada de emocionalismo, de amor, de verdade, com muitas influências de música brasileira e bossa nova, com melancolia, que fala do coração dela diretamente ao coração dos outros. 

Diogo Clemente – pessoa com quem, afirma Carolina, “fez música e filhos” (risos do público) – entra em palco para um emocionante dueto, com a canção simplesmente amorosa “Coisa Mais Bonita”. Ainda muito dentro deste registo, tivemos o prazer de ouvir as deliciosas canções “A Miúda Gosta” e “Não Me Deixes” (com a convidada especial Maro, também ela uma excelente vocalista). Mas foi mesmo com “A Vida Toda” que o público vibrou – Carolina confidencia que um dos sonhos dela era um dia ser uma artista que tivesse “pelo menos uma música que toda a gente soubesse cantar por ela”, e conseguiu-o muito bem, não só com “A Vida Toda”, como também com “Avião de Papel”. E Carolina agradece, a nós, ao universo, por estar ali, e por “fazermos da nossa casa, a casa dela”.

Carolina mostra, ainda, ser uma artista versátil, ao presentear o público com um medley de covers, nomeadamente Britney Spears, Da Weasel, Ornatos Violeta e Dillaz. 

É de destacar a componente extremamente humana de Carolina. Um dos motivos para ela ser tão acarinhada pelo seu público é, sem dúvida, a intimidade que ela tem com quem segue o trabalho dela, a emoção e autenticidade com que ela faz tudo e se mostra ao mundo. Foi sempre com emoção que, ao longo deste concerto, Carolina interagiu com o público com um enorme sentimento de gratidão, por saber que são aquelas pessoas que alimentam o sonho dela. Sempre com uma genuinidade deliciosa, tão própria dela, a artista partilha lágrimas ao vivo, afirmando que ainda nem consegue acreditar que está a cumprir este sonho na vida dela. E deixa o seu público feliz, feliz por ela!

Texto original para o site Echo Boomer.